Animes e mangas são provavelmente os elementos da cultura popular japonesa mais conhecidos no mundo, entretanto, a forma como eles são assimilados dentro de outras culturas difere bastante a forma como são vistos aqui no Japão. Especialmente nos países ocidentais são vistos como meros desenhos e histórias em quadrinhos que tem como único público adolescentes e crianças. Essa visão tanto não é correta que se criou e difundiu uma subcultura otaku da qual participam de crianças a adultos. Em primeiro lugar é preciso deixar claro a diferença de uso da terminologia otaku no Japão em outros lugares. Enquanto no Brasil, por exemplo, é comumente usada para designar qualquer pessoa que gosta de anime e manga, aqui no Japão representa um grupo de pessoas praticamente marginalizados, por um lado por si mesmos, visto que são individuos fanáticos por um determinado hobby (logo não se restringe aos animes e mangas), e por outro lado pela sociedade que não aceita essas pessoas completamente alienadas.
Feita essa distinção se percebe o uso incorreto do termo otaku no Brasil, e se a terminologia já começou errada com certeza toda a concepção da visão japonesa em relação a animes e mangas é bastante incorreta. É muito comum que os fãs se revoltem com esse tratamento infantilizado que é dado a desenhos e histórias e quadrinhos, argumentando que “no Japão não é só coisa de criança, é coisa de adulto também”. Ocorre que aqui existe um porém muito grande. Sim, existe uma maior tolerância com jovens lerem e assistirem anime e manga, e sim, os adultos também assistem e lêem, mas não qualquer gênero. Dentro dos trens você ve muita gente de 30, 40, 50, 60 anos lendo manga, mas não é One Piece, Naruto e etc, são mangas direcionados ao público adulto, com temas adultos que vão de política a pornografia (e isso é algo engraçado aqui, eles não tem vergonha de ler pronografia na rua). Da mesma forma voce vê muita criança lendo Naruto, enquanto os jovens lêem mais One Piece, por exemplo.
Quero chegar com esses exemplos na seguinte idéia. Mangas e animes tem uma faixa etária geralmente bem definida, e via de regra os japoneses respeitam essa faixa. Ao mesmo tempo em que esse tipo de entretenimento faz parte do cotidiano deles não significa que todos são “entendidos” no assunto. Vivendo em um alojamento e observando o hábito dos japoneses você percebe que as pessoas acima de 18 anos acompanham 1, 2 séries de manga, quando dá tempo assistem um episódio de One Piece no domingo (bato bastante na tecla de One Piece porque essa é a obra de maior sucesso, é a modinha por aqui a mais de 12 anos)… enfim, a grande maioria tem esse contato bastante light. Fora dessa maioria existem alguns que são mais fãs de certas obras que outros, e depois existem os fanáticos, que acreditem, são pessoas muito estranhas.
Enfim, o ponto nisso tudo é que o otaku brasileiro acha que TODO japones ama anime e manga, que todo mundo faz cosplay, que os adultos aplaudem esse tipo de comportamento e isso não é assim. Manga e anime é bem visto enquanto forma de entretenimento, a partir do momento que sai do gosto casual para uma obsessão (por menor que seja) a coisa muda bastante, isso já atrai, se não um desprezo uma certa indisposição dos outros. Ou seja, tem muito brasileiro que acha que viver a vida como um personagem de anime é normal, mas nem por aqui é assim (pode até ser mais comum, mas não é visto como um comportamento saudável).
No final das contas os dois lados cometem muitos erros. Se por um lado o “otaku ocidental” cria uma visão de glamour para muitos comportamentos estúpidos, age como criança, assiste coisa de criança (o que não é problema em si, o problema é achar que isso é coisa de adulto japones) e se orgulha disso, o japones comum é bastante crítico com fanatismos mas muitas vezes os cultiva as escondidas, a maior prova de que adultos e “jovens mais velhos” são um pouco “fãs enrustidos” é a quantidade de Pachinko de Evangelion e Hokuto no Ken. Muita gente mais velha critica os jovens por se apegarem demais a esse mundo, mas no fundo queriam participar um pouco, alguma companhia (provavelmente a Sega) percebeu isso e começou a fazer pachinko (que são uma espécie de máquina caça níquel, um videogame só para maiores de idade digamos assim) de anime e o resultado? Esses locais vivem lotados e tem fila para certas máquinas.
O que eu defendo aqui é o meio termo, gostar e ser fã não é problema. Problema é ser obsessivo demais com certos gostos ou ainda pior, justificar essa obssessão criando ilusões. No caso do brasileiro essa ilusão geralmente assume o seguinte padrão de comportamento: o cara de 20 anos coloca bandana de Naruto e pega uma espada (ah é também existe a visão ocidental absurda dos samurais, mas isso fica pra outro post) e sai pra rua achando que é foda, achando que do outro lado do mundo ele seria idolatrado por isso, quando na verdade ele é fã de um desenho de criança e está agindo como uma. Repito, gostar de coisas de outras faixas de idade não é problema (eu mesmo gosto de muita coisa de gosto duvidoso hehe, ainda que em geral mais por uma questão de nostalgia), o problema é a falta de bom senso é. Nem todo desenhos e história em quadrinho é coisa de criança e existe necessidade de uma valorização maior dessas mídias, em contrapartida nem todo manga e anime é coisa de adulto, e existe a necessidade de se fazer essa distinção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário